Valorize sua propriedade, preserve o meio ambiente

Companheiro fazendeiro,

É da maior importância estarmos preparados para os desafios dos anos futuros. Nossa atividade produtiva está intimamente ligada à conservação dos recursos naturais. Nossas ações devem ser realizadas em harmonia com o meio ambiente. O crescimento econômico deve gerar as condições para atuarmos de maneira eficaz. Valorize a sua propriedade. Preserve o meio ambiente. A sua conscientização é a chave do sucesso. Tanto seu como de todos nós.

Pedro de Camargo Neto, presidente; e José de Sampaio Góes, diretor de Meio Ambiente.

O texto acima está na introdução de uma cartilha com o mesmo título deste artigo distribuída aos associados da Sociedade Rural Brasileira em 1992, em preparação para a Eco-92, como ficou conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada na cidade do Rio de Janeiro em junho daquele ano.

Nesse mesmo período agricultores desenvolviam a técnica do plantio direto. Avançavam na preservação do solo indo além do ensinado nos currículos das faculdades de Agronomia ou institutos de pesquisa. Foi no norte do Paraná que o plantio direto foi desenvolvido, sendo hoje utilizado amplamente no Brasil, nos países vizinhos e mais recentemente nos Estados Unidos da América. A técnica reduz a erosão do solo, conserva umidade, melhora a fertilidade e hoje passou a ser diretamente relacionada com a absorção de carbono no solo. Um emblema da sustentabilidade da agricultura brasileira.

A produção agropecuária sempre evoluiu no sentido da maior sustentabilidade, mesmo quando essa palavra não era utilizada. Extensão territorial, recursos hídricos, vegetação tropical, sol, biodiversidade. Um patrimônio que precisa ser valorizado colocando o País na liderança.

Certamente também houve erros, ou melhor, resultado da evolução da compreensão, do desenvolvimento tecnológico, do tempo necessário para a sua divulgação e educação. Será sempre um processo em que o que se exige é aprender e evoluir.

Destaco o conceito das Áreas de Preservação Permanente (APP), que além dos terrenos de forte declive e difícil manejo inclui as áreas nas proximidades dos rios e dos córregos e úmidas. Resultado de uma evolução, pois um século atrás a recomendação era o corte raso da vegetação até a água, pois acreditava-se importante dificultar a proliferação de mosquitos e as doenças que ali se disseminavam. O produtor compreendeu seu valor respeitando, preservando e recuperando faixas na proximidade da água. O conceito foi incorporado no Código Florestal. Mesmo representando uma perda de área em tese útil, nunca foi judicializado. Evoluiu para ser compreendido como uma valorização da propriedade. É lamentável que pouco se reconheça esse valor.

Avançar, pesquisar, educar exige respeito ao próximo e mente aberta. Educando, e não acusando, que se evolui.

O conceito de preservação ambiental, de valorização da natureza, está em permanente evolução. Dos primeiros impactos resultados da revolução industrial ao despertar de uma maior conscientização com a aprovação nos Parlamentos de legislações e órgãos reguladores, chegamos ao desenvolvimento sustentável destacando a importância de ações globais para enfrentar as questões ambientais.

O produtor sempre foi atento à preservação, preocupado que é em deixar para o futuro algo melhor do que recebeu. Por que então essa imagem negativa que tanto se esforçam em impingir ao setor?

Avançar, muitas vezes, contempla enfrentar posições opostas, muitas vezes radicais. Faz mesmo parte. A evolução somente ocorre quando através da mútua compreensão das obrigações e desafios a maioria chega a um acordo. É inaceitável o negacionismo dos polos impedindo o necessário avanço.

Continuamos com o problema do desmatamento. O Brasil aprovou um Código Florestal oferecendo a base para a ocupação florestal. Embora aprovado em 2012, continuou a ser judicializado por uma minoria que não soube perder no Congresso Nacional, atrasando sua implementação. Até hoje o principal instrumento de regularização ambiental, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), não foi devidamente implementado. O produtor fez sua parte apresentando mais de 6 milhões de cadastros. Os poderes públicos erram em estratégia e obrigação de análise. Não cumprem com o básico, empurrando a culpa ao produtor.

O vetor das ilegalidades passa longe do setor. O garimpo ocupa regiões. Reservas indígenas são saqueadas. A permissividade regional favorece a exploração madeireira ilegal, a grilagem de terras. É emergencial impor ordem, obrigação dos poderes públicos. O término do desmatamento ilegal ocorrerá como consequência.

O debate sobre o desmatamento legal, aquele previsto em legislação, deve ser realizado com informações corretas e transparência. Eventual alteração deve ocorrer no Congresso Nacional.

A polarização entre grande parte do ambientalismo e o setor agropecuário é antiga. Anterior a esta que hoje nos aflige em tudo. Infelizmente não será assim que avançaremos.

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PECUARISTA E AGRICULTOR, FOI PRESIDENTE DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA (SRB)

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