Pesquisadores sugerem hub para acelerar transição

A COP28 foi considerada uma grande oportunidade por pesquisadores brasileiros que puderam apresentar suas propostas e ouvir outras. Integrantes do Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) lançaram, com outras entidades, a ideia de criar um Hub Tecnológico Global, com parcerias entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, centros de tecnologia e indústria, além de colaboração financeira. O objetivo é acelerar a transição energética e a descarbonização da economia. Sediado na Universidade de São Paulo (USP), o CRGI trabalha com a iniciativa Technology Without Borders (TWB), um consórcio liderado pelo Net Zero Technology Centre (NZTC), da Escócia, e outros cinco centros de pesquisa da África, Austrália, Holanda, Japão e Reino Unido.

“A quantidade de estudos interessantes na COP é de milhares”, diz Paulo Artaxo, um dos cientistas participantes do RCGI, professor titular e chefe do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP. Mas, para ele, se a iniciativa privada não se engajar completamente na redução de emissões de gases de efeito estufa, não haverá saída. Uma das maneiras mais rápidas e baratas de reduzir a emissão seria parar o desmatamento de florestas tropicais, que respondem por 17% das emissões globais. “Mas só isso não adianta”, diz o pesquisador. O Brasil é campeão em desmatamento, responsável por 17% das emissões.

Um estudo apresentado na COP 28 pela ONG Imaflora, citado por Artaxo, foi sobre métodos de redução de emissões do setor agropecuário. Segundo o estudo, é possível produzir a mesma quantidade com técnicas diferentes e reduzir em até 70% as emissões. E trata-se de um dos setores mais complicados. “Há uma série de estratégias que ajudam a reduzir as emissões dramaticamente”, afirma o professor.

Iraê Guerrini, professor do departamento de solos e recursos ambientais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), apresentou uma metodologia, desenvolvida na universidade, que consegue medir a quantidade de carbono no solo a até um metro de profundidade. As outras metodologias coletam o material a até 30 cm de profundidade, o que é bom para florestas temperadas, rasas e jovens, diferente das florestas tropicais. O solo tropical pode chegar a 40 metros ou 50 metros de profundidade e a medição de carbono a um metro é bem mais precisa. O estudo não foi apresentado na conferência, mas, segundo Guerrini, a recepção a ele foi muito boa.

Um método preciso para a aferição na quantidade de carbono no solo pode ser fundamental, já que o mercado regulado desse ativo está prestes a ser iniciado, afirmam especialistas. “Ele dá mais valor à floresta e mais credibilidade para a quantificação do ativo”, diz Guerrini. A utilização do método pode ser acordada com a agência Unesp de inovação (AUIN). A KPMG deu aval.

Estudo do Imaflora aponta ser possível reduzir em até 70% as emissões do campo sem alterar os totais produzidos

“A gente vê no mercado uma preocupação para se gerar ativos de melhor qualidade. O Brasil quer ser remunerado pelo ativo florestal que preserva e precisa desses ativos para investir na manutenção dos estoques de carbono presentes no bioma”, afirma Felipe Salgado, diretor de descarbonização da KPMG. A auditoria certifica a precisão dos cálculos, assegurando que a metodologia aplicada esteja alinhada com as melhores práticas.

Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Tecnológica de São Paulo (IPT) participaram de dois painéis na COP28. Nesta edição, os cientistas puderam ir também ao setor reservado aos governos. Parte da agenda do IPT estava voltada à bioeconomia. “Entendemos que, além da mudança da matriz energética, que é super necessária, também precisamos analisar a forma como utilizamos melhor todos os recursos da natureza, a fim de diminuir a pegada de carbono”, diz Claudia Echevenguá Teixeira, responsável pelo núcleo de sustentabilidade e baixo carbono do IPT.

A questão da resiliência também foi discutida. Na opinião de Teixeira, um dos pontos que mais avançou na COP 28 foi como nos adaptamos às mudanças climáticas, como podemos aproveitar as infraestruturas a fim de garantir que possamos suportar cada vez eventos extremos, sobretudo as populações mais vulneráveis.

“É preciso se preocupar com a justiça climática, garantir que todo mundo consiga suportar”, afirma. O IPT mantém projetos com a defesa civil do Estado de São Paulo voltados para a resiliência, desenvolvendo a questão de risco associado e avaliando o risco de escorregamento de terra, por exemplo. Ao agregar tecnologia, é possível ter uma predição melhor, completa.

O IPT também trabalha para desenvolver tecnologia para a produção de hidrogênio. “Só vamos controlar se começarmos a desenvolver processos que não gerem emissões, porque só neutralizar e capturar não é suficiente”, afirma.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) aplica o que chama de ciência para o desenvolvimento. A equipe do Biota Síntese prepara notas técnicas a fim de subsidiar políticas públicas. A partir de demandas das secretarias estaduais, a equipe apresenta soluções baseadas na natureza, socioambientais, de sustentabilidade agrícola, de restauração ecológica, controle de prevenção de zoonoses e prevenção de doenças em áreas urbanas.

Informações do Valor Econômico

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